FRANCISCO LIMA EZEQUIEL "SAMARRA"

 

A 1 de Agosto de 2004, o Francisco "Samarra" em defesa dos seus princípios e em defesa da vida, deixou-nos.

Foi um Domingo e todos nos preparávamos para rumar à Figueira da Foz, onde o grupo nessa tarde iria pegar juntamente com o grupo do Aposento da Moita. Pouco antes da hora de almoço, soubemos da fatídica notícia. Nessa tarde o Aposento da Moita num gesto de grande nobreza prontificou-se a pegar os 6 toiros, deixando-nos ir ter com o nosso Samarrinha.

O Samarra aparece no Aposento da Chamusca em 1996, vindo do grupo da Golegã , juntamente com o Jorge Olivio e o Sérgio Quina , calado e observador, mas muito valente, nos primeiros treinos deu logo para ver que tínhamos um Miura, extraordinário 2ª ajuda e destemido forcado de caras.

O primeiro toiro que pega pelo grupo foi em 1996, em Topas, Vila Espanhola perto de Salamanca, em pontas e à primeira tentativa com o Élias a dar-lhe 1ª ajudas.

Foram 8 anos de jaqueta posta em que foi um pilares da sua geração, deu centenas de 2ª ajudas e pegou muitos toiros, desses destacam-se alguns como o toiro da Ganadaria de Eduardo Oliveira pegado em pontas na Praça de Salvaterra, ou um Maria Guimar Cortes Moura pegado em Coruche, ou um charrua pegado no Campo Pequeno....

Mas o nosso Miura havia de se cruzar, com o seu oponente natural, foi em Saint Vicent de Tyrosse, nessa noite o grupo pegou 3 Teixeiras, por intermédio dos manos Freires, também conhecidos por anfíbios e pelo João Braga, um toiro de uma Ganadaria Francesa , por intermédio do Rui Pais e um Miura.

O Miura pesava cerca de 600kg, imponente, com as hastes largas, e sem ter o esqueleto preenchido de carne. O Samarra cedo se prontificou para o pegar, com 1ªs ajudas do seu amigo Rui Hipólito, na primeira tentativa, o Miura Espanhol levou a melhor, e esse mesmo tem um gesto que arrepiou todo o grupo, deu uma volta a arena e colocou-se no sitio de onde tinha saído na primeira tentativa, aí embate com as hastes nas tábuas, coloca-se novamente de frente para o grupo, como que a dizer estes são os meus terrenos, mas teve azar do outro lado apanhou o nosso “Miura”, citou, templou, carregou, recuou, reuniu na perfeição e fechou-se, ajudado bem por todo o grupo.

Ainda hoje nos lembramos da nossa alegria, e a satisfação natural do Samarra, com aquele sorriso muito próprio dele, como que a dizer já está...

Francisco queremos que saibas que temos saudades tuas, mas também sabemos que apartir do dia 1 de Agosto de 2004, o grupo passou a ajudar com 7 elementos, pois onde quer que estejas a sempre uma mão tua a ajudar quem pega...

Levaste a jaqueta contigo, mas estás sempre presente no nosso grupo, domingo voltamos à Figueira da Foz, e lá estarás tu, novamente ao nosso lado.

Um Abraço e vemo-nos Domingo

Aposento da Chamusca


Entrevista a Francisco Macedo "Fakika"

Aposento da Chamusca (AC)- Passados estes anos todos o Tiago despediu-se, que sentimentos tiveste?

Francisco Macedo (FM)- A sucessão de um Cabo é inevitável. Contudo para o nosso Grupo esta teve um significado muito especial, pelofacto de o Tiago ter sido, até essa altura, o unico Cabo, por ter estado 27 anos à frente do Grupo e por a ele se dever o plano de destaque que o Aposento da Chamusca atingiu.

Por tudo isto, foi com um sentimento de nostalgia mas também de alegria que vi o Tiago passar o comando do Grupo Forcados do Aposento da Chamusca, pois significa que o Grupo está "vivo e de boa saúde".

 

AC- Que expectativas tens em relação a este ciclo que agora começa?

FM- Estou seguro que a renovação será benéfica para o Aposento da Chamusca e que o Pipas estará à altura da responsabilidade.

A todos nós cabe-nos ajudar no que for possivel.

 

AC- Fazendo uma análise ao grupo hoje, o que achas desta geração?

FM- Esta nova geração tem uns elementos de muito boa qualidade, entrega ao Grupo e com provas dadas, como o Antonio Melara, o Chico Montoya, o Tiago Lopes, o Ricardo Cartaxo, para citar alguns. Contudo o que mais destaco e o que mais me enche de alegria, é a quantidade de jovens que têm aparecido nos ultimos anos , com enorme vontade de pegarem toiros e que irão assegurar a continuidade e, com certeza, a qualidade do nosso Grupo.

 

AC- Como fundador que diferenças encontras no grupo 27 anos depois?

FM- A posição que o Grupo ocupa entre a Forcadagem nacional foi conseguida com muito esforço, dedicação e com uma enorme vontade de triunfar de todos os que vestiram a jaqueta do nosso Grupo. Não encontro grandes diferenças pois os valores base do Aposento da Chamusca têm-se mantindo intactos ao longo dos anos. O espirito de amizade e a união têm sido as caracteristicas preponderantes ao longo de todos estes anos.

 

AC- Se tivesses que definir o grupo numa frase, qual seria?

FM- Sangue, Suor e..."algumas" cervejolas...

 

AC- Qual a tua expectativa em relação a época de 2011?

FM- A mudança de Cabo tem que gerar uma ainda maior coesão do Grupo. Estou certo que todos estamos conscientes da importancia desta época e da necessidade de demonstrarmos todo o nosso apoio ao Pipas. Com este espirito presente a expectativa para esta época só pode ser a melhor.

 

AC- Como descreverias o momento actual da tauromaquia em Portugal?

Apesar de todas as manifestações contra levadas a cabo por uns "animais", julgo que a tauromaquia em Portugal atravessa um momento de apogeu. O que vemos é um número cada vez maior de corridas, espalhadas por todo o país, e com praças cheias.

O elevado número de Grupos de Forcados existentes é, apenas, mais um sinal da enorme aficion existente nos jovens deste país.

 

Rápidas pessoais

Praia preferida? Playa del Carmen, água a 30º

Clube de Futebol? O "Glorioso" Sport Lisboa e Benfica

Viagem de Sonho? Austrália, de costa a costa

Cidade de Sonho? Rio de Janeiro

Desporto de eleição? Rugby

Comida preferida? Peixe grelhado

Mulher perfeita? A minha, a Catarina.

 

Rápidas de toiros

Cavaleiro preferido? João Moura

Ganadaria preferida? Engº Rosa Rodrigues

Melhor Pega que realizaste? A de Madrid teve um significado especial

Maior tareia que levaste? não me lembro...eheh

Melhor Forcado de Cara? Carlos Teles "Caló". Do nosso Grupo o Vasco Coelho dos Reis.

Melhor 1º ajuda? João Pedro Bolota

Qual o forcado mais completo que conheceste? O Pipas, apesar de um "bocadinho" trapalhão, inexedivel em entrega e valentia.

Praça preferida? Nazaré.

Momento mais feliz no Aposento? Têm sido muitos, tenho dificuldade em destacar apenas um.

Momento mais triste no Aposento? A morte do valente Francisco Samarra

 

AC- Para finalizar que conselho darias aos elementos do Aposento da Chamusca?

FM- Nada é conseguido sem esforço e dedicação. Que se entreguem em cada corrida, em cada toiro, como se fosse o ultimo. Que dêem tudo o que têm sempre que forem chamados a intervir. Aos mais novos que tenham paciência, que treinem bastante, tanto técnica como fisicamente, que a vossa oportunidade irá chegar e em força...

Pelo Aposento da Chamusca venha vinho!!!

 

 

 

Entrevista ao Cabo Pedro Coelho dos Reis "Pipas"

Aposento da Chamusca (AC)- O que sentiste quando saltaste as tábuas e caminhaste para receber o grupo do Tiago?

 

Pedro Coelho dos Reis (PCR)- Senti uma grande responsabilidade e um medo enorme de poder falhar, mas também um grande orgulho de herdar um grupo com 27 anos de história na arte de pegar touros.

 

Na minha opinião existem dois valores essenciais para um grupo de forcados amadores triunfar: Aficion e a Amizade.

 

A Aficion não é mais do que a exteriorização e a exaltação de valores, que estão enraizados em cada elemento do grupo, numa tentativa cada vez melhor da interpretação da arte de pegar touros. A pega não é mais que uma escola de virtudes, que nos proporciona nesta nossa segundo família, um sem número de sentimentos, emoções e alegrias e até fracassos, que não são mais do que o alimento, para toda a nossa Aficion. O forcado não só vale pela sua serenidade e sangue frio, mas também pela sua qualidade artística. Por isso senti que no Aposento da Chamusca existia uma preocupação enorme em fazer com que a pega fosse cada vez mais toureira.

 

O segundo valor que invoco é a amizade que é um valor essencial quer para a formação de um grupo de forcados amadores, quer para a sua continuidade. Sempre associei um grupo de forcados a um grupo de amigos e no Aposento da Chamusca foi isso que encontrei. Encontrei um grupo em que se criam amizades que nos acompanham para toda a nossa vida. Criam-se amizades essenciais para a formação da nossa personalidade, do nosso carácter, amizades que nos ajudam a encontrar soluções para combater os difíceis conflitos que a vida futura nos irá trazer.

 

Resumindo estes dois valores fundamentais, penso que o Grupo de Forcados Amadores do Aposento da Chamusca tem criado os alicerces para poder triunfar no meio taurino.

 

Um bem-haja para todos aqueles que acreditaram e defenderam estes princípios e os conseguiram difundir no seio do grupo.

 

 

AC- O que te disse o Tiago quando te entregou o Grupo, se é que nos podes contar?

 

PCR- O Tiago disse-me que gostaria que os princípios do grupo e as linhas gerais do grupo fossem sempre mantidos. Princípios como a honestidade, a nobreza, a dedicação ao grupo, os quais teriam que estar sempre presentes no dia-a-dia do grupo, bem como a dignificação da jaqueta do grupo.

 

Assumindo todos os compromissos com muita galhardia e vontade de triunfar, independentemente da arena que se possa pisar. É estar em praça com presença e alma” Toureira”.

 

 

AC- Qual foi a sensação de capitanear o grupo?

 

PCR- Foi uma grande sensação de responsabilidade, pois sei que vou ter que conviver com momentos de triunfo, mas também de fracasso. E é destes últimos que penso que posso ser uma boa ajuda tanto dentro como fora da praça, transmitindo a minha experiência, na tentativa de os ultrapassar, da melhor maneira, as dificuldades que nos irão aparecer. Sinto-me mais um forcado do grupo, que conto com a ajuda de todos para podermos elevar o nome do Grupo dos Forcados Amadores do Aposento da Chamusca.

 

AC- Quais as expectativas em relação ao grupo que herdaste ?

 

PCR- Pegar touros não é mais do que uma expressão cultural e nela a arte está na criatividade, das iniciativas, sob o lema de quem não sente a arte não a admira. Em tauromaquia muito há que ver para sentir, já que não é por mero capricho ou pela simples razão de se ocuparem lugares e cartéis de privilégio. Há que ser muito aficionado, muito taurino, como tal consta de uma formação inspirada no campo da amizade e na humildade. O gosto pelas ovações, pelo público, deverá existir no coração de um forcado. Sonhar a pega de uma corrida é “lindo”! Mas mais bonito é a humildade que deverá existir mesmo após uma ovação e um triunfo, em perguntar aos outros a sua opinião sobre a pega. Quando o sentimento de humildade for esquecido no nosso grupo, tornamo-nos vulgares.

 

Cada vez mais o forcado deve ser aficionado ao touro bravo, deve tentar compreender os seus terrenos, a velocidade da sua investida, a sua nobreza. Só assim se pode retirar de cada touro o máximo de arte e toureiro possível.

 

Gostaria também de ter presente nas corridas, bem como nos jantares do grupo o apoio dos elementos mais velhos, tão importantes na difusão da cultura do grupo, bem como no ensinamento da arte de pegar, através dos seus conhecimentos e da sua experiência.

 

 

AC- Reparamos que a tua família estava presente no Sábado, que conselhos te deram?

 

 

PCR- É verdade, tive sempre um grande apoio do meu pai em todos os momentos do grupo, acompanhando-me sempre em todas as digressões do grupo (Venezuela inclusivé). Nesta tarde tão especial para mim fiquei muito contente por ver todos os meus irmãos, bem como os meus sobrinhos na bancada da praça da Chamusca a assistir à corrida. Eles apoiaram-me em tudo assim como a minha mãe, que no jantar do grupo, vendo tanta gente nova me disse: “ Pipas tens uma grande responsabilidade na formação de tantos novos forcados que tens no grupo. Formação esta tão importante, apoiada em pilares fundamentais tais como a educação e o respeito dentro e fora da praça”.

 

 

AC- Se tivesses que definir o grupo numa frase, qual seria?

 

PCR- Um grupo de amigos muito jovens misturados com alguns forcados mais maduros, muito aficionados e com grande vontade de triunfar.

 

 

AC- Qual a tua opinião em relação a época de 2011?

 

Será uma época muito importante, para a afirmação no seio do grupo, de todos os forcados mais novos que sonham em conquistar um lugar no grupo. O grupo encontra-se numa fase de transição, recheado de muitos elementos novos que serão muito importantes para os triunfos do grupo nas corridas que for convidado a pegar.

 

Gostaria de deixar uma mensagem aos forcados mais novos, para saberem esperar pelas oportunidades que possam surgir para serem chamados a intervir e nessa altura saber aproveitá-las, estando bem em praça. Devem ainda aprender a vibrar com os êxitos do grupo como se fossem êxitos deles. É não querer ser vedeta, mas fazer do próprio grupo a vedeta.

 

Só assim faz sentido vestir a jaqueta de um grupo de forcados.

 

AC- Como descreverias o momento da tauromaquia em Portugal?

 

PCR- Vejo-o com uma certa preocupação. Começamos a ver que existem muitas tentativas de bloqueio a certas praças e corridas, culminando com o propósito ridículo de quererem acabar com as corridas de touros. Teremos que ser mais unidos e essencialmente organizados. Por outro lado vejo que continuam a existir muitas corridas, quando os cartéis são aliciantes a encherem as suas praças. É com muita satisfação que assistamos a uma vaga muito grande de jovens a quererem experimentar a arte de pegar, aparecendo nos treinos de forcados. Penso que cabe aos grupos terem uma palavra muito importante na formação de estes novos aficionados, pois o futuro da nossa festa passará por eles.

 

 

Rápidas pessoais

 

Praia preferida? Guincho

 

Clube de Futebol? Sporting Clube de Portugal

 

Viagem de Sonho? Indonésia

 

Cidade de Sonho? Rio de Janeiro

 

Desporto de eleição? Rugby

 

Comida preferida? Cozido à Portuguesa

 

Mulher perfeita? A minha Mãe

 

 

Rápidas touros

 

Cavaleiro preferido? João Moura

 

Ganadaria preferida? Engº Ruy Gonçalves

 

Melhor Pega que realizaste? Santarém (24/10/10) – Touro de José Luis Pereda

 

Maior tareia que levaste? Nazaré (24/8/1994) Touro de Infante da Câmara

 

Melhor Forcado de Cara? Antigo: Vasco Coelho dos Reis; Actual: Gonçalo Veloso

 

Melhor 1º ajuda? Antigo: Francisco Macedo (Fakika); Actual: João Pedro Motta Ferreira

 

Qual o forcado mais completo que conheceste? João Pedro Bolota

 

Praça preferida? Santarém

 

Momento mais feliz no Aposento? Digressão Venezuela/ Corrida em Madrid (Las Ventas) 26/6/98

 

Momento mais triste no Aposento? Falecimento do forcado Francisco Samarra

 

 

AC- Para finalizar que conselho darias aos elementos do Aposento da Chamusca?

 

PCR-

 

- Aproveitarem ao máximo os treinos;

 

- Estarem bem fisicamente;

 

- Saberem conviver com os triunfos e fracassos;

 

- Saberem ouvir os elementos mais velhos do grupo e saberem que eles fizeram parte da história do grupo;

 

- Darem o melhor de si próprios ao grupo;

 

- Terem gosto e emoção por bater palmas a um touro;

 

- Vibrarem com os êxitos do grupo, mesmo sem terem estado presentes em praça;

 

- Fazerem com que a pega seja cada vez  mais toureira.

 

 

 

Novo capítulo na história do grupo

Amigo Pipas,

 

Houve quem dissesse, um dia: «O homem que for para a cara de um toiro fará o que para muitos é considerado temeridade e para nós, portugueses, apenas uma pega de caras». Esta simples, curta, clara e magnífica frase, que diz tanto em tão poucas palavras, é tão complexa de maneira simples, de uma profundidade imensa e de um nível tão alto, que está somente ao alcance de alguns. Ainda assim, quando no final do século XIX houve uma tentativa governamental de proibição da actuação dos forcados na Praça de Toiros de Lisboa, escreveu Ramalho Ortigão: (...) «às razões de brandura de costumes, de humanidade, de filosofia, de civilização, invocadas pelos que dirigem esta jigajoga, eu, humilde intérprete do povo, só uma coisa oponho: é que má raios partam o zelo tísico de tanto maricas, de tanto chochinha, de tanto lambisgóia!». Mais actual era impossível…

 

Ora, serviu esta introdução para dizer o seguinte: o Aposento da Chamusca teve desde os seus primórdios gente valente, com raça, galhardia e nobreza. Deu sempre mostras – por vezes mais, por vezes menos – de grande atitude, dentro e fora de praça. Entre todos eles podemos destacar vários que ressaltam e sobressaem à vista. Alguns já nem estão entre nós. Mas deles há tempo para falar e agora é tempo de concentrar no Grupo, no todo, e na sua liderança. É isso que me leva a escrever estas palavras de agradecimento, por um lado, e incentivo e ânimo, por outro.

 

É esta uma época muito especial para o Grupo. Mais uma. E teve várias. A título de exemplo podemos destacar o 1º aniversário, o 10º aniversário, o 20º aniversário, as bodas de prata, etc.

Agora, o Grupo vê partir o cabo fundador, e vê suceder-lhe um outro. Poderíamos dizer em termos taurinos e metaforicamente – corrige-me se assim não for – que estamos perante uma injecção de sangue novo nesta distinta ganadaria que é o Aposento da Chamusca. Estamos perante uma mudança de liderança. E nessa mudança de liderança, que desde a origem e formação em 29 de Julho de 1984 se manteve sob as instruções do nosso mestre Tiago Prestes, teremos um novo capítulo na história do Grupo, agora sob a tua liderança que penso ser – senão unânime, será com certeza pelo menos pelos mais sensatos – a melhor maneira de passar um testemunho. Sinto o Grupo e fico aliviado de saber que a liderança passa por ti.

 

Nada do aqui digo é novidade para ti. E nada do que aqui escrevo fugirá à corrente de quem se propusesse escrever-te umas palavras. De qualquer maneira devo-te estas palavras de força, de incentivo, de encorajamento, dias antes da corrida. Mais do que uma obrigação, sinto que devo fazê-lo. E tu mereces. Quem sou eu para “dar palavras de incentivo ou encorajamento”. Mas acho que mais do que isso, são palavras que mereces ler ou ouvir, por todo o empenho e dedicação no Grupo. E se isso bastar para te sentires orgulhoso só de as ler, já é suficiente.

 

Cada época é importante, diferente, distinta. Contudo, esta terá mais “salero”. A passagem de testemunho é um marco notável em qualquer grupo de forcados. Não passará despercebido entre a aficion. É de particular relevo no seio do nosso Grupo. E quem melhor do que tu, enquanto pessoa, enquanto líder, e enquanto forcado de raça, para receber um testemunho tão precioso como este. Um forcado que desde sempre de tudo abdicou para, com entusiasmo, transmitir e demonstrar a sua galhardia e valentia, honradez e arte, incentivo e alma, sempre com muita humildade e toreria, a todo um grupo que colhe esses valores em cada treino, corrida, evento. Assim se quer num grupo de forcados, assim se passou no Grupo, e tenho a certeza que assim continuará a ser no Aposento da Chamusca, desta vez sob a tua liderança.

 

Escrevi há anos, sobre o nosso Grupo: «Viver e sentir a paixão por este bonito que é o dos toiros é o mote do Aposento da Chamusca. Pois que num país de tamanhas tradições, é essa a lógica de todos aqueles que se orgulham de vestir a jaqueta deste Grupo: o orgulho de ver, viver, sentir e fazer parte de um espectáculo por todos preferido e predilecto, acorrendo a mil e um locais onde podem saciar toda a sua "afición", com bravura, destreza, galhardia e nobreza». Quando escrevi estas palavras, senti cada uma delas. E fico muito contente que sejas tu a nova cara destas palavras que com orgulho escrevi. Aliás, já não são minhas. São do Grupo. Foi para o Grupo que as escrevi. Consequentemente, são tuas e de todos. Pois foste tu, e todos, que me transmitiram sentimento suficientemente grande para as escrever.

 

Concluo dizendo apenas o seguinte: o moço de forcado é, por definição, um homem valente, valente e com medo, por isso mesmo superiormente valente. Foi nos toiros que aprendi essa definição. Foste tu um dos forcados que contribuiu para que eu percebesse e alcançasse essa definição. Tenho que te agradecer. Aqui o faço.

 

Continuarás, agora como líder, a transmitir essa definição a todos os que te seguirão. Por isso, devo-te este texto e estas palavras, acabando não sem antes arrematar que sinto-me igualmente orgulhoso pela tua nova liderança no Aposento da Chamusca, como pela liderança de 27 anos do cabo Tiago. Nunca esquecendo, face a muitas críticas positivas ou negativas, que não é fácil gerir, liderar, chefiar, comandar. O cabo comanda. E as suas ordens não se põem em causa em situações de risco, como são as corridas.

 

Aqui fica, da minha parte, um forte, saudoso e sonoro olé taurino ao novo cabo do Aposento da Chamusca, figura da tauromaquia Portuguesa. Se ainda valer de alguma coisa, tens todo o meu apoio e com ele podes contar sempre, garantindo que lá estarei no dia 4 de Junho de farda em riste para o que der e vier, às ordens de dois cabos: o actual e o futuro.

 

Sorte e que Deus acompanhe o Aposento da Chamusca, o seu actual e o futuro cabo, sempre!

 

Um abraço amigo,

 

José Gabriel Saldanha Pinto Coelho, advogado na Sociedade Albuquerque & Associados - Sociedade de Advogados e elemento do GFA Aposento da Chamusca.