Cronica tauromaquia

Portugal para onde vais?

A tauromaquia é uma arte centenária que transporta consigo um sem número de princípios e de regras que têm vindo a perdurar ao longo dos tempos como a razão da sua própria existência.

Esta manifestação de cultura ancestral, que tem sobrevivido aos vários embates geracionais, está intimamente ligada à pureza e interligação inconsciente de valores como a coragem, a dignidade, o respeito e a solidariedade, entre outros.

Para se enfrentar os toiros, e muitas vezes a própria reacção do público, há que ter coragem e valentia, aqui entendida como a capacidade de autodomínio do medo e da dor, do perigo e da incerteza e não de pura inconsciência, porque o toiro o não permitiria por muito tempo. A dignidade surge aqui associada pelos sacrifícios físicos e mentais necessários para atingir o triunfo. Há que ter respeito pelo toiro, pelo público, pelas regras e pela convivência. Respeito por si próprio e pela festa. Há que ter solidariedade, bem patente num grupo de forcados, em que a coesão, o diálogo, a tolerância, a ordem, a harmonia, a amizade, o equilíbrio e a confiança marcam indelevelmente a sua vivência, e bem visível na defesa de causas humanitárias, como por exemplo, o contributo prestado à Cruz Vermelha, às Misericórdias e a várias outras Instituições de Apoio Humanitário – a pobres e desprotegidos, sobretudo aos que sofrem.    

 

Ao contrário do que se passa na nossa sociedade, o toiro não permite a utilização da mentira e faz ele próprio, sem tráfico de influências, a selecção dos predestinados.

 

De facto, a Tauromaquia é a festa da verdade. Ou existe verdade e existe toureio, ou sem verdade não existe triunfo e sem triunfo não existe a festa.

Em contraponto, a sociedade que estamos a construir vai perdendo cada vez mais as suas referências e os seus valores, repercutindo-se nas muitas actividades que têm vindo afastar-se da sua verdadeira essência, deturpando-a ou invertendo-a, muitas das vezes, criando instabilidade, insegurança e desconfiança. Será, por isso, que tanto é perseguida e molestada a festas dos toiros?

O facilitismo, o desleixo, a falta de profissionalismo, a insegurança, o medo e a defesa de falsas verdades serão o futuro?

É esta a sociedade que queremos construir?

Será esta a tão proclamada evolução?

Hoje, quase todos nós lamentamos o nosso destino. De facto, a construção desta sociedade deve-se ao que somos e ao que deixamos que se faça, mas, sobretudo, deve-se àquilo que não fazemos.